Cobranças de falta perigosas, cheias de efeito. Espírito
de liderança e amor pelos clubes que passou, em especial o Vasco. E
muitos títulos: Juninho Pernambucano se despede do futebol com o nome
eternizado nos corações vascaínos.
Antônio Augusto Ribeiro Reis Júnior começou a carreira no
Sport de Recife, sua cidade natal. Foram 2 anos de base até estrear nos
profissionais, em novembro de 1993. De cara, fez parte da "Geração de
Ouro" que ganhou o Estadual e a Copa Nordeste de 1994, sob o comando de
Givanildo Oliveira.
Não demorou para as grandes atuações daquele Sport, como
os 5x2 no São Paulo campeão mundial de Telê (com gol de Juninho),
chamarem a atenção de clubes maiores. Telê pediu e o São Paulo quase
contratou, mas foi o Vasco que levou as promessas do Leão em 1995.
Juninho chegou no pacote que tinha como estrela Leonardo (leia mais aqui:http://globoesporte.globo.com/pe/noticia/2012/08/lembra-dele-leonardo-ex-vasco-timao-e-sport-rememora-carreira.html)
e logo conseguiu um lugar no time. Meia direito de grande passe e
cruzamento, logo na estreia mostrou a que veio: virada de 5x3 no Santos,
na Vila.
Só dois anos depois que o primeiro título veio. Em
reformulação, o "delegado" Antônio Lopes chegou em 96 e em 97 trouxe
Nasa, Evair, Válber e Mauro Galvão.
No Brasileiro, campanha incrível com apenas 5 derrotas e
muitos shows, como os 4x1 sobre o Fla, na primeira fase que o Vasco
liderou, e no empate em 0x0 com o forte Palmeiras de Scolari.
Um 4-2-2-2 típico da época: Felipe tinha total liberdade
para apoiar, sustentado pela cobertura de Nasa e muitas vezes Válber na
direita. Aberto pela direita, Juninho era a referência na criação,
enquanto Ramon circulava pela esquerda e o veterano Evair recuava para
as diagonais de Edmundo.
No ano seguinte, a consagração, mesmo com as saídas de
Edmundo, para a Fiorentina, e Evair, para a Lusa. Donizete e Luizão,
enfrentando muita desconfiança, formaram a nova dupla de ataque para a
prioridade máxima do clube em ano de centenário: a Libertadores.
Com o desafio de fazer o Vasco, que nunca tinha passado da
primeira fase, ser campeão, Juninho carregou a responsabilidade de um
time aguerrido, no mesmo 4-2-2-2, mas com Vagner equilibrando na
direita, Juninho decisivo e Luizão e Donizete marcando o volante
adversário, como Antônio Lopes explica aqui: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/vasco/noticia/2013/08/donizete-e-luizao-o-reencontro-da-pressao-dupla-decisiva-do-titulo.html
Na difícil semifinal contra o River Plate, campeão em
1996, coube a Juninho cobrar uma falta. O Vasco estava perdendo de 1x0.
Cobrança de longe, quase frontal no gol. Juninho corre, bate na bola com
o característico "topsin". Gol "Monumental" que garantiu o Vasco na
final e até gerou música da torcida: "Contra o River Plate sensacional,
Gol do Juninho, monumental"
Os anos seguintes seriam de reformulação: mundial perdido
para o Real Madrid e em 99, na Liberta, a vingança do Palmeiras no
impecável 4x2 em pleno São Januário; no Brasileiro, um inesperado 5x4
para o vitória e o duro revés para o Corinthians na final do "Mundial",
com direito a penalidade decisiva perdida por Edmundo.
Mesmo a Taça Guanabara, com Abel Braga no comando, não foi
párea para as derrotas para o Fla, no estadual, e Flu, na Copa do
Brasil. Juninho continuava titular absoluto e "motor"do time: suas
atuações raramente caiam de nível.
Oswaldo de Oliveira chegou e acertou o time no Brasileiro.
No mesmo 4-2-2-2, Jorginho, ex-Fla, virou volante para dar qualidade ao
meio e prender Nasa. Juninho Pernambucano cadenciava para outro
Juninho, o Paulista, e Euller darem velocidade junto a Romário.
Campanha tão problemática quanto a competição: Oswaldo
cumprimentou Felipão após o melhor jogo da campanha, os 3x3 com o
Cruzeiro, e foi demitido. Joel chegou e só manteve a equipe que bateu o
forte São Caetano, apesar do triste episódio da queda do alambreado de
São Januário na final.
Antes, no final de 2000, a histórica "Virada do Século",
mesmo com um a menos em pleno Palestra Itália. Foram 3 gols de Romário e
um impressionante 4x3 no segundo tempo que deu o título da Mercosul ao
Vasco, última conquista de Juninho no clube.
Valorizado e melhor nome do time, Juninho queria
valorização. Entrou na justiça e fez história: foi o primeiro jogador a
entrar na justiça contra a Lei do Passe, que prendia jogadores nos
clubes com baixos salários. Uma liminar o transferiu para o Lyon, em
2001.
E novamente fez história: levou o então desconhecido time
francês a incríveis 7 campeonatos nacionais consecutivos, de 2002 a
2008. No auge, em 2003/04, tuou por 46 vezes e marcou 17 gols. No ano
seguinte, Juninho faria 16 gol em 44 jogos e em 2005/06, mais 13 gol em
44 jogos.
Sob o comando de Paul LeGuen, Juninho atuou como criador
central do 4-2-3-1 que predominou na equipe até 2005. Malouda, Govou,
Réveillére (também na lateral) e Carriére podiam se unir a Juninho no
meio, com o meio bem protegido por Essien e Diarra. Cláudio Caçapa e
depois Cris foram titulares na zaga.
As atuações credenciaram Juninho a fazer parte do grupo de
Parreira nas Eliminatórias em 2005 e na Copa do Mundo da FIFA Alemanha
2006™. Mesmo não titular, Juninho entrava nos jogos e marcou um gol
contra o Japão.
Nas quartas, contra a França, Parreira sacou Adriano para a
entrada de Juninho, repaginando o Brasil num 4-3-2-1 com ele e Zé
Roberto jogando pelos lados para liberar Kaká e Ronaldinho. Sem sucesso:
atuação pífia e a falha da defesa no gol de Henry que marcou a triste
despedida de Juninho da Seleção.
De volta ao Lyon, agora sob o comando de Gérard Houllier,
Juninho continuou a ser titular, mesmo que o nível das atuações fosse
diminuindo por conta da idade. Houllier o adaptou na esquerda, junto a
Tiago e Diarra numa trinca de volantes que ajudava Wiltord na armação
junto a Fred e a ainda promessa Benzema no 4-3-1-2 da equipe.
Com a chegada de Claude Puel no lugar de Houllier, que
brigou com o presidente, Juninho foi lentamente perdendo espaço e o Lyon
conquistou apenas um nacional, em 2007/08. Puel remodelou o time para
um 4-3-2-1 com Benzema de atacante, ora centralizado, ora aberto pela
esquerda. Mas a equipe inteira pedia renovação.
Quis o destino que o último gol com a camisa do Lyon fosse
exatamente o centésimo, contra o Caen, em 23 de maio de 2009. Despedida
do talvez maior ídolo da equipe francesa.
Juninho aceitou proposta do árabe Al-Gharafa, do Qatar, e
conquistou 3 títulos pelo clube do Oriente. Mas ele queria voltar. Em 27
de abril de 2011, Juninho aceita ganhar um salário mínimo e posa com
Roberto Dinamite: o Reizinho estava de volta a Colina.
Na reestréia, Juninho inicia a partida como titular e já
marca um gol, de falta, na derrota para o Corinthians, julho de 2011.
Capitão do time, Juninho fez parte da reformulação da base que
conquistara a Copa do Brasil naquele ano e perseguiu o Corinthians até a
rodada final, quando acabou vice do Brasileiro.
No móvel esquema de Cristovão Borges, substituto de
Ricardo Gomes depois do AVC, Juninho atuou predominantemente como
volante pela direita no 4-3-1-2 que se transformava em 4-3-3 com a
movimentação de Diego Souza na esquerda e duas linhas de 4 na marcação
com Éder Luís voltando.
Em 2012, o 4-3-3 permaneceu, ora com Felipe, ora com
Juninho: Cristovão modificava seus titulares e as convincentes atuações
do camisa 6, incluindo uma volta na lateral esquerda, faziam muitas
vezes Juninho ser preterido.
Na Libertadores, o camisa 8 foi titular absoluto no
4-2-3-1 que predominou na competição. Mesmo jogando melhor que o
Corinthians e ter praticamente a bola do jogo nos pés de Diego Souza, o
Vasco de Juninho sucumbiu para o futuro campeão quando as críticas a
Cristovão começavam a aumentar.
O bom primeiro turno no Brasileiro de 2012, se mantendo no
bloco da frente, não conteve as críticas da torcida ao técnico, que
saiu após os 4x0 para o Bahia, em São Januário. Seria o início do
"calvário" do Vasco naquele segundo turno, onde os salários atrasados e a
desunião do grupo tiraram a vaga da Libertadores e também Juninho do
clube: o meia foi ao New York Red Bulls, dizendo que "saía pelo bem do
Vasco".
Quase 7 meses depois e na reserva da Major League Soccer
(MLS), Juninho rescindiu com o time norte-americano, frustrado e com
apenas 13 partidas. Voltou imediatamente ao Vasco, na semana em que
importantes reforços davam a impressão de renascimento ao time de
Dorival Júnior.
Mas não deu. Juninho atuava bem, mas o 4-2-3-1 veloz pelos
lados de Dorival não deu liga em momento nenhum. Sempre como meia
central, Juninho começava a sofrer com problemas físicos pela idade.
Lesionado nos 2x2 com o Santos, já com Adílson Batista no
comando, Juninho chorou o segundo rebaixamento vascaíno no fim da
temporada, o que o motivou a assinar um contrato no Carioca. Queria
ajudar o Vasco em um momento difícil, mas o corpo falou mais alto.
Pelo time carioca foram 393 partidas e 76 gols marcados,
sendo Palmeiras e Santos as maiores vítimas: 6 cada um. O rival Flamengo
vem logo depois: 5 gols. E muitos títulos, incluindo 2 brasileiros, 1
Mercosul e 1 Libertadores.
Dizem que o maior ídolo de um clube vai de acordo com a
época em que o torcedor viveu. Se os mais velhos lembrarão de Bellini e
Barbosa e outros citem Roberto Dinamite ou Romário, Juninho estará no
coração dos mais novos que viram o "Reizinho" jogar.
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