A motocicleta de baixa cilindrada, que sempre é lembrada como um
veículo de trabalho (associada aos motofretistas -- ou "motoboys"), teve
um momento de redenção no programa "Caldeirão do Huck", da TV Globo, no
final de agosto. No quadro "Lata Velha", uma Honda CG, ano 2008, passou
por uma transformação radical. A moto, com suas linhas ousadas, foi
mostrada para milhões de telespectadores e fez sucesso.
O resultado inspirou as empresas Chimpa e TMC (esta do ex-piloto de
Fórmula 1 Tarso Marques), que personalizaram a moto, a lançar uma linha
de modelos de baixa cilindrada com design exclusivo. Mas elas serão bem
diferentes daquela mostrada no programa e terão como base o estilo "café
racer", de estilo despojado.
Assim como acontece com a
indústria de roupas, o setor de motos também é influenciado por
tendências. Atualmente, o estilo café racer parece ser a bola da vez.
Nascido na Inglaterra, nos anos 1960, esteve sempre associado à
rebeldia, ao rock, velocidade e à falta de frescura. Para os
entusiastas, itens como carenagens, laterais e banco da garupa são
supérfluos.
A tendência surgiu com os jovens ingleses que
preparavam suas máquinas de marcas como Triumph, BSA e Norton para
disputar pegas curtos, entre um café e outro -- daí o nome dado. Na
busca por mais velocidade, a moto era depenada para perder peso e os
motores recebiam preparação para ganhar potência.
Passado mais
de meio século, o estilo café racer atravessou o oceano e ampliou seus
seguidores também no Brasil, onde atrai desde quem quer uma moto
exclusiva, até quem achou uma forma inusitada de proteger o patrimônio
da ação de ladrões. Veja exemplos:
VIDA NOVA
No Brasil, novos entusiastas convertem motos populares como a Honda CG
125 em máquinas únicas, cheias de atitude. Um deles é o designer gráfico
Felipe Fagundes que vê na café racer um símbolo urbano. "A moto é um
projeto de quatro amigos, queremos mostrar que é possível se deslocar no
ambiente urbano, mantendo identidade própria, com charme e estilo".
Muitas vezes transformar uma moto velha em café racer pode ser mais
prático e barato do que restaurar, pois nem sempre é possível encontrar
as peças ou os preços são proibitivos. Rodrigo Cibantos, conhecido como
Funai, da oficina Old Bikers e responsável pela transformação da CG 125,
concorda. A moto seguiu a receita clássica: perdeu as
laterais, para-lamas e outros itens "desnecessários", ganhou pintura
exclusiva, novo escape e sistema de filtro de ar. É difícil acreditar
que se trata de uma sofrida Honda CG dos anos 1980.
QUANTO CUSTA O SONHO
Não são apenas os jovens que se empolgam com o estilo. O engenheiro
Gustavo Sperotto, 42 anos, de Bento Gonçalves (RS), sempre foi ligado
nas clássicas dos anos de 1970. Com muita paciência,
conseguiu ter a sua sonhada café racer na garagem. Sua opção foi uma
Honda CB 400 1982 por conta da robustez do motor e da mecânica simples.
Para concretizar seu sonho, porém, gastou cerca de R$ 7.000 em peças e serviços.
SEGURO CAFÉ
Para o videomaker Douglas Studzinsk, de Santa Cruz do Sul (RS), a
transformação é inspirada pelo "apelo vintage". Douglas publica o blog garagemcaferacer.com.br há dois anos e vê a cada dia aumentar o número de seguidores e adeptos do estilo.
A imaginação sem limites permite aos aficionados transformar as motos
de qualquer tipo. Até mesmo as pequenas custom, como a Suzuki Intruder
250, ou aventureiras como a Yamaha XTZ 600 Ténéré, já ganharam contornos
de café racer.
Seja por opção visual ou custo, a transformação
também garante mais tranquilidade em relação ao roubo. Uma motocicleta
café racer não é atrativa para o ladrão, afinal a moto tem poucas peças
originais e pode ser facilmente diferenciada das outras.
Esse é um fator, que segundo Douglas, também tem atraído motociclistas.
FAZER OU COMPRAR?
Quem curte o estilo tem dois caminhos: ou vai na loja e compra pronta
ou se embrenha nos caminhos da personalização. Na primeira opção temos
no Brasil a Triumph Thruxton. Uma releitura das clássicas inglesas dos
anos de 1960 que oferece recursos de motos modernas, como injeção
eletrônica e até freios ABS. Para ter uma dessa é preciso desembolsar R$
32.490, assim, o mercado de usadas pode ser opção. Quem se
empolgou também pode procurar uma das muitas oficinas que transformam
qualquer moto em café racer. Ou se tiver conhecimento mecânico basta
arregaçar as mangas e partir para o trabalho. Mas antes disso convém
pesquisar muito.
Nessa pesquisa, a internet é uma aliada. As
redes sociais permitem que o entusiasta encontre seus pares e troque
ideias sobre o tema. Um exemplo é a comunidade Café Racer Brasil do
Facebook (https://www.facebook.com/groups/caferacerbrasil) que reúne
quase 8.000 internautas.
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