Gladiadores exercitavam-se, mas não eram atléticos, na verdade a sua dieta, a base de vegetais, rica em carboidrato e cálcio ocasional os deixavam gordos.
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
Da primeira vez que li o texto abaixo, foi quando estava lendo material para escrever um artigo sobre o roubo da história.
Outro dia, o caso dos gladiadores me voltou à cabeça quando assisti um
pedacinho da série “Spartacus” – que mostra os gladiadores como sujeitos
sarados, trincados e cortados.
Sabe de nada, inocente.
por Andrew Curry
Um juiz observa enquanto dois tipos distintos de gladiadores lutam
até a morte, nesta peça encontrada num cemitério de gladiadores em
Éfeso. O homem no meio – um pesado secutor de armadura – perdeu seu
escudo, deixando-o vulnerável ao quase desnudo reciário, à direita.
O Café Westend, em frente à Estação
Central de Viena, é um ponto turístico da cidade. Suas cabines de feltro
verde e garçons cansados, de terno preto amassado, viram muito ao longo
dos anos. Mas quando ele concordou em me encontrar aqui ao invés de em
seu laboratório nos arredores da cidade, Karl Grossschmidt, um
paleo-patologista da Universidade Médica de Viena, prometeu me mostrar
algo novo mesmo para essa cafeteria centenária. Empurrando para o lado
as xícaras de capuccino vazias e os restos de um croissant, Grossschmidt
dá uma olhada rápida por sobre o ombro para ver se o nosso garçon está
fora de vista. Tudo limpo, ele enfia a mão num saco plastico e tira uma
caixa branca de papelão. Dentro dela, protegida por toalhas de papel,
está um crânio humano sem mandíbula. Grossschmidt o ergue gentilmente e
passa para mim. “Não deixe cair – é de verdade” ele diz.
Os três furos no crânio são evidência de morte por tridente, de um gladiador
de Éfeso. Uma imagem gerada por computador mostra como a arma teria
penetrado no crânio.
Eu pego com as duas mãos o crânio de
um gladiador romano que viveu, lutou e morreu mais de 1800 anos atrás em
Éfeso, onde hoje é o oeste da Turquia. Junto com mais de 60 de seus
jovens camaradas, ele foi enterrado em uma cova com 20m2 ao
longo da estrada que leva do centro da cidade ao Templo de Ártemis, uma
das 7 Maravilhas do Mundo Antigo. O estudo recente dos ossos do único
cemitério de gladiadores conhecido está preenchendo as lacunas das
fontes literárias e dos registros arqueológicos que dizem respeito a
como os gladiadores morriam. Mas a maior revelação a sair do cemitério
de Éfeso é o que mantinha os gladiadores vivos – uma dieta vegetariana
rica em carboidratos, com suplementos ocasionais de cálcio.Relatos
antigos da vida dos gladiadores às vezes se referiam aos guerreiros como
hordearii - literalmente, ‘homens de centeio’. Grossschmidt e
seu colaborador Fabian Kans sujeitaram fragmentos de ossos à análise
isotópica, uma técnica que mede traços de elementos químicos tais como
cálcio, estrôncio e zinco, para ver se conseguiam descobrir o motivo.
Ele tiveram resultados surpreendentes. Comparados aos habitantes médios
de Éfeso, os gladiadores comiam mais plantas e muito pouca proteína
animal. A dieta vegetariana nada tinha a ver com pobreza ou direitos dos
animais. Os gladiadores, ao que tudo indica, eram gordos. Consumir um
monte de carboidratos simples, como centeio, e leguminosas, como
feijões, era questão de sobrevivência na arena. Entupindo-se de
carboidratos eles ganhavam muitos quilos. ‘Os gladiadores precisavam de
gordura subcutânea’, Grossschmidt explica. ‘Um acolchoado de gordura te
protege de cortes e escuda os nervos e vasos sanguíneos numa briga’. Não
apenas um gladiador magro teria virado carne morta, ele também daria um
show ruim. Cortes superficiais ‘aparentam ser mais espetaculares’, diz
Grossschmidt. ‘Se eu for ferido apenas na camada gordurosa, eu posso
continuar lutando’, adiciona. ‘Não machuca muito, e tem boa aparência
para os espectadores’.
A existência da adaga de quatro pontas (a foto mostra uma réplica) era
conhecida por desenhos, mas sua função era um mistéro até que esse
joelho portando uma incapacitante ferida quádrupla foi identificado
Mas uma dieta de centeio e legumes
teria deixado os lutadores com uma deficiência séria de cálcio. Para
manter seus ossos fortes, relatos históricos dizem, eles bebiam misturas
nojentas de carvão ou cinza de ossos, ambas ricas em cálcio. Qualquer
que fosse a fórmula exata, a coisa funcionava. Grossschmidt diz que os
níveis de cálcio nos ossos de gladiadores eram “exorbitantes”,
comparados aos da população em geral. “Muitos atletas de hoje tem que
tomar suplementos de cálcio”, ele diz. “Naquela época, já sabiam
disso”.Isso não é dizer que vida – ou morte – de um gladiador era
agradável. Muitos dos homens que o time de Grossschmidth estudou,
morreram apenas após terem sobrevivido a múltiplos golpes na cabeça. “A
proporção de feridas no crânio foi surpreendente, uma vez que todos os
tipos de gladiadores, exceto um, usavam capacetes”, diz Coleman da
Universidade Harvard. Gladiadores geralmente lutavam em combates
um-contra-um, com suas armaduras e armamentos projetados para dar
vantagens opostas. Por exemplo, um reciário mais leve, sem capacete e
quase sem armadura, armado com uma rede e um tridente, lutaria contra um
enormemirmilão usando
um capacete maciço com pequenas aberturas para os olhos e carregando um
escudo grosso e longo. Três dos crânios de Éfeso foram perfurados por
tridentes, armas usadas apenas pelos gladiadores. Dez foram esmagados
por objetos pesados, talvez golpes de misericórdia com um martelo.
Outros ferimentos ilustram a morte ideal do gladiador, ao finalmente
aceitar o golpe fatal. Marcas de cortes em 4 dos homens evidenciam um
final dramático. “Quando eles perdiam e estavam deitados de barriga para
baixo, seus oponentes os perfuravam na altura da escápula, atravessando
o coração”. Grossschmidt diz. “Também achamos vértebras com marcas de
corte. Elas teriam vindo de uma perfuração por espada, vinda através da
garganta e atingindo o coração”.
Texto e imagens retirado integralmente do ótimo Paleodiário
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