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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

MEC muda regra de troca de senha do Enem, e estudantes relatam invasões no Sisu

Enem 2016 foi o primeiro que não exigiu 'duas etapas' para recuperar senha. Em fórum anônimo, grupo planejou mudar inscrições no Sisu. Três candidatos denunciaram invasões.


O Governo federal mudou, na edição de 2016 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), as regras de acesso individual dos candidatos aos sistemas on-line. A edição aplicada no ano passado, e usada pelos estudantes para concorre a vagas no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2017, deixou de exigir a chamada "verificação em duas etapas" para que os candidatos façam login ou recuperem a senha.
Após a mudança, candidatos denunciaram acesso de terceiros em seus perfis no Sisu e alterações indesejadas nas opções de cursos nos quais concorriam. Um fórum anônimo na internet mostra que ao menos um grupo divulgou dicas para "roubar" a senha de estudantes que se destacaram no Enem 2016 e manipular suas participações no Sisu, que usa a mesma senha.
O Ministério da Educação (MEC) afirmou, no fim da tarde desta terça-feira (31), que não registrou "indício de acesso indevido a informações de estudantes cadastrados, que configure incidente de segurança". O governo diz que vai acionar a Polícia Federal para apurar os casos relatados pelos alunos.

E-mail e telefone: reclamações

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) afirmou que a mudança na recuperação de senha foi feita na gestão anterior e não sabe informar o motivo da flexibilização.
Entretanto, o Inep disse que funcionários avaliam que o envio das senhas por e-mail ou telefone "não significava aumento de segurança" e "causava um número grande de reclamações" por eventuais não recebimento das novas senhas.
"Para 2017 várias mudanças estão sendo analisadas no que tange ao edital, sistema de inscrição e sistemas de segurança do Exame, incluindo os procedimentos para troca de senha", informou o Inep.
Em teste feito pelo G1, senha de candidata de São Paulo foi modificada em menos de um minuto, com acesso a alguns dados pessoais (Foto: Reprodução/Inep)Em teste feito pelo G1, senha de candidata de São Paulo foi modificada em menos de um minuto, com acesso a alguns dados pessoais (Foto: Reprodução/Inep)
Em teste feito pelo G1, senha de candidata de São Paulo foi modificada em menos de um minuto, com acesso a alguns dados pessoais (Foto: Reprodução/Inep)

Denúncias de invasão

Três candidatos do Sisu ouvidos pelo G1 relataram ter tido suas senhas do Enem 2016 alteradas por terceiros. Uma estudante de Sergipe acabou perdendo a chance de ser aprovada no Sisu por causa de uma alteração em sua inscrição que ela alega não ter feito.
A sergipana Anne Caroline Santos, de 19 anos, tirou a nota máxima na redação do Enem. Ela sonhava em cursar medicina na Universidade Federal de Sergipe (UFS), mas percebeu que não tinha nota suficiente após a divulgação das notas de corte parciais. No domingo (29), no último dia de inscrições do Sisu, ela mudou suas opções: colocou medicina em Mossoró (RN) como primeira opção, e enfermagem na UFS como segunda opção. Sua segunda opção era garantia de aprovação.
“Coloquei enfermagem porque tinha pontos suficientes para passar, mas quando fui conferir o resultado estava alterado. Na segunda opção apareceu medicina na Unioeste/PR. Com isso, não senti a alegria de ser aprovada em um curso superior e agora estou na lista de espera de medicina”, lamentou ela, em entrevista ao G1.

Disputa com hacker

O estudante Thales Maciel, de 21 anos, mora em Ribeirão Preto, em São Paulo, e foi aprovado no curso de medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Porém, ele suspeita que foi hackeado. Ele conta que durante todo o período do Sisu teve problemas com a inscrição.
“Todo dia em que eu tentava entrar no sistema não conseguia acessar e tinha de trocar a senha. Quando conseguia logar via que a minha segunda opção estava sempre mudada. Mexeram nas minhas escolhas todos os dias", afirmou ele ao G1. Em uma das vezes, inclusive, o candidato disse que estava inscrito na Universidade Federal de Goiás (UFG) como cotista, sendo que ele não está no perfil dos contemplados pela lei de cotas, já que fez o ensino médio em uma escola particular.
Thales disse que ficou monitorando o sistema nas últimas horas antes do seu encerramento, às 23h59 do domingo (29), para se certificar que a inscrição estava correta e não correr o risco de ser aprovado em um curso que não escolheu. Ele fez a denúncia ao Ministério da Educação e pretende registrar um boletim de ocorrência.
Tereza Gomes ganhou repercussão nacional quando descobriu ter sido uma das 77 pessoas que conseguiu nota mil na redação. Porém, como suas notas nas provas objetivas ficaram abaixo do esperado, a jovem da Paraíba acabou decepcionada no período de inscrições do Sisu. Após verificar a primeira nota de corte do sistema, ela viu que não passaria nas opções de cursos de medicina que tinha em mente. Portanto, desde sexta-feira (27) ela deixou de acessar seu perfil no Sisu. Ela disse que manteve sua inscrição em duas opções de cursos de medicina, mesmo sabendo que não teria chance de ser aprovada.
A notícia de que seu perfil poderia ter sido invadido veio pelo Facebook no fim da manhã desta terça-feira (31), quando ela recebeu mensagens privadas informando que ela estava na lista de aprovados do curso de produção de cachaça, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais (IFNMG). Foi então que ela se lembrou de outra mensagem, enviada na noite de segunda-feira (30), de uma pessoa desconhecida, com uma imagem da lista de aprovados no curso do IFNMG. Ela diz que achou que fosse uma montagem e não deu atenção.
Imagina se eu tivesse média para passar para medicina? Além disso, prejudicou quem queria esse outro curso”, disse ela ao G1.
Em um teste, foi confirmado que a senha da estudante foi alterada. No fórum anônimo onde internautas combinaram tentativas de roubo de senha, a paraibana é uma das vítimas mencionadas (veja abaixo). Tereza diz que já se matriculou em um novo cursinho, para tentar pela sexta vez conseguir a aprovação na graduação em medicina.
O caso gerou comentários pejorativos nas redes sociais sobre o curso de produção de cachaça e fez com que o IFNMG reagisse. Em seu perfil oficial no Facebook, o instituto reprovou a ação de hackers, mas também exigiu respeito a seu curso de produção de cachaça, oferecido na cidade mineira de Salinas e que, segundo o IFNMG, é o único do país oferecido por uma instituição pública.
"Tanto os alunos quanto o curso Produção de Cachaça merecem o nosso respeito. Para quem não sabe, Salinas é uma cidade do Norte de Minas reconhecida mundialmente pela produção de cachaça, e o curso é o único do país oferecido por instituição pública na área. Quem tirou nota mil pode cursar o que quiser. Afinal, quem é nota mil terá sucesso em qualquer área. E a cachaça de Salinas é nota mil!"
Instituto Federal do Norte de Minas Gerais defendeu, nas redes sociais, o curso de produção de cachaça oferecido no campus de Salinas (Foto: Reprodução/Facebook)Instituto Federal do Norte de Minas Gerais defendeu, nas redes sociais, o curso de produção de cachaça oferecido no campus de Salinas (Foto: Reprodução/Facebook)
Instituto Federal do Norte de Minas Gerais defendeu, nas redes sociais, o curso de produção de cachaça oferecido no campus de Salinas (Foto: Reprodução/Facebook)

Sistema de segurança 'fraco'

Especialista em segurança digital e colunista do G1, Altieres Rohr afirma que o sistema de segurança do Enem é "fraco" e possui falhas graves. "O sistema é, evidentemente, fraco. O CPF não é informação confidencial e todas as demais informações é possível descobrir no Facebook de muitos candidatos", diz ele.
"Ele também sofre de uma falha gravíssima", afirma Rohr. "Todos os dados necessários para trocar a senha (CPF, nome da mãe, residência, nascimento) são 'fixos'. Uma vez que alguém consegue esses dados seus, a pessoa vai, para sempre, poder trocar sua senha. Ou seja, a pessoa está com a chave-mestra do seu login e você não pode fazer nada a respeito."
O especialista compara o acesso ao site do Enem com o de outros serviços. "Compare isso com um mecanismo que depende de confirmação por e-mail. Caso alguém roube sua conta de e-mail e consiga autorizar uma troca de senha, você pode, então, trocar a senha de acesso ao seu e-mail e bloquear o acesso do bandido. Dali em diante, você fica protegido. Já no Sisu, não há o que mudar, não há o que fazer."
Caso alguém roube sua conta de e-mail e consiga autorizar uma troca de senha, você pode, então, trocar a senha de acesso ao seu e-mail e bloquear o acesso do bandido. Dali em diante, você fica protegido. Já no Sisu, não há o que mudar, não há o que fazer.
(Altieres Rohr, especialista em segurança digital)
Fórum anônimo na internet explorou brecha de segurança do Enem usando dados da estudante da Paraíba que ganhou repercussão por causa de sua nota mil na redação (Foto: Reprodução)Fórum anônimo na internet explorou brecha de segurança do Enem usando dados da estudante da Paraíba que ganhou repercussão por causa de sua nota mil na redação (Foto: Reprodução)
Fórum anônimo na internet explorou brecha de segurança do Enem usando dados da estudante da Paraíba que ganhou repercussão por causa de sua nota mil na redação (Foto: Reprodução)

Fórum anônimo explorou falha

Essa falha foi supostamente explorada por internautas, que se reuniram em um fórum anônimo para disseminar dicas de como roubar a senha de candidatos do Enem e alterar suas inscrições no Sisu. Na manhã desta terça-feira, as mensagens no fórum já haviam sido apagadas.
De acordo com o especialista Altieres Rohr, o fórum é uma espécie de "vale-tudo" criado nos mesmos moldes dos fóruns do 4chan (Estados Unidos). "Esse tipo de fórum é bastante permissivo quanto ao conteúdo e por isso se tornam lugares notórios para organizar trotes e 'zoação'. Eles não são exatamente hackers, mas muitos não são santos e fazem questão de possuir acesso a dados pessoais (ou fotos íntimas) com o intuito de realizar trotes ou assediar a pessoa/bullying. Depois, eles compartilham no fórum com os demais usuários para ridicularizar as vítimas publicamente."
Durante a "peça" que decidiram pregar nos estudantes, Rohr destaca que os internautas "mencionam o CadSUS para obter CPF. Outro termo comum empregado nos 'chans' brasileiros é o de 'Serasafag', que significa alguém que tem acesso ao Serasa. É comum um 'Serasafag' aparecer e divulgar dados de pessoas que outros participantes pedem. Normalmente fazem isso pra algum objetivo pessoal, trote, assédio etc. É algo que está sempre na margem do crime, do bom senso ou do bom gosto."

Edições anteriores tinham segunda camada de segurança

Na edição de 2015, além de informações pessoais, para recuperar ou solicitar uma nova senha de acesso ao site oficial do Enem, o candidato precisava inserir o número de celular ou o endereço de e-mail informados no ato da inscrição no Enem. Assim, a nova senha seria enviada para outro ambiente ao qual apenas o candidato tivesse acesso. Isso quer dizer que, para roubar a senha, seria preciso, além de obter informações pessoais, ter acesso ou ao aparelho de telefone do candidato, ou ao endereço e senha do e-mail usado na inscrição.
Rohr explica que, "no caso do Sisu, como é um sistema de uso nacional e com vários requisitos de acessibilidade plena, é bastante difícil de projetar um sistema com autenticação de dois passos".
Ele diz que é possível usar diversas informações para criar essa camada de segurança, inclusive celular, e-mail. "No fim, poderiam pedir o número da inscrição no Enem. Se a pessoa não tiver nada, aí ela perdeu a conta e precisa ser verificada pelo suporte, mas isso tem custo."

domingo, 29 de janeiro de 2017

Gritos, discussão e faltas técnicas: os ecos de um Vasco x Fla sem torcida

Com os portões fechados por falta de policiamento da PM, silêncio cria atmosfera diferente no clássico e sons da quadra predominam na Arena da Barra neste sábadoor 


Sem torcidas nas arquibancadas, já que a Polícia Militar alegou não ter efetivo, e o Cruz-Maltino, mandante no duelo, e Liga Nacional de Basquete (LNB) optaram por manter o confronto na Arena da Barra, o que se via eram as cadeiras vermelhas vazias, e o que se ouvia eram os sons que ecoavam da quadra. Não fosse a música que saía dos alto-falantes durante o aquecimento e o intervalo, a "trilha sonora" do clássico teria sido apenas as batidas da bola no chão, as muitas orientações dos treinadores Dedé Barbosa, do Vasco, e José Neto, do Flamengo, nos pedidos de tempo técnico, as indicações feitas entre os atletas das jogadas que deveriam ser feitas e o arrastar dos tênis no piso de madeira nas passadas na correria do confronto (confira acima um compilado de momentos do confronto que mostram a atmosfera atípica).
DISCUSSÕES ENTRE JUÍZES E ATLETAS, E MARQUINHOS EXCLUÍDO
Em alguns momentos, ficou evidente inclusive como o silêncio atrapalhou os árbitros do jogo, Cristiano Jesus Maranho, Guilherme Locatelli e Jacob Cassimiro Barreto. Diferentemente dos jogos com torcida, quando algumas reclamações dos atletas sequer são notadas, dessa vez nada passou batido pelos juízes. Assim, as discussões entre eles e os jogadores de ambas as equipes foram recorrentes. Ao todo, foram quatro faltas técnicas - sendo uma em cada banco e duas para o jogador Marquinhos, do Flamengo, que acabou excluído.
O camisa 11 do Rubro-Negro já estava em rota de colisão com os árbitros. Primeiro, levou uma falta técnica porque gritou na hora em que o rival Nezinho se preparava para arremessar de fora do garrafão. O jogador do Vasco da Gama acabou acertando, mas ganhou mais um lance livre (confira no vídeo abaixo)
Mais tarde, foi a vez de Marquinhos ir para a linha de lance livre. O jogador do Flamengo ficou gesticulando, reclamando e alegou ter ouvido um grito vindo do banco de reservas do Vasco da Gama. Ao reclamar com o árbitro, falou: "Não tem torcida aqui!", querendo mostrar que foi uma forma dos vascaínos de atrapalharem sua cobrança. Mas o juiz deu sua segunda falta técnica no confronto. Por isso, ele acabou tendo de sair direto para o vestiário. Bem irritado, o camisa 11 do time da Gávea seguiu criticando a arbitragem e disse que o Rubro-Negro sempre é prejudicado.


LAMENTOS E RECLAMAÇÕES SOBRE A SITUAÇÃO ATÍPICA
Se já reclamavam antes do confronto pelo fato de não conseguirem jogar um clássico com ambas as torcidas, visto que, desde o retorno do Vasco da Gama ao basquete profissional, as equipes se enfrentaram seis vezes, todas elas sem as duas torcidas (Vasco venceu quatro, Flamengo venceu duas, além de uma em que o Rubro-Negro ganhou por W.O. na final do Estadual e se tornou campeão), esses lamentos aumentaram depois do jogo deste sábado. Apesar do triunfo, os vascaínos não esconderam que a atmosfera ficou muito aquém do que esperavam para um duelo tão importante. Para eles, o silêncio atrapalhou muito também.

- O jogo fica mais difícil, né? Você chama uma jogada e todo mundo já sabe. O jogo fica mais truncado, é complicado. O jogo foi nível de Flamengo x Vasco sim, mas eu fico triste. Queria que estivessem aqui as duas torcidas. Não queria perder essa oportunidade. Não sei se no futuro terei outras chances - avaliou Nezinho, do Vasco.
Vasco x Flamengo - NBB (Foto: André Durão)As indicações de Dedé Barbosa foram ouvidas praticamente o tempo todo (Foto: André Durão)
O técnico Dedé Barbosa, do Vasco da Gama, disse que, apesar do resultado positivo, não gostou de vivenciar um confronto em total silêncio e lamentou pela arbitragem, mas não culpou os árbitros pelos problemas, já que os atribuiu à atmosfera atípica.
- Em termos de banco, todo mundo escuta todo mundo, então foi um jogo muito atípico. Para a arbitragem foi horrível. Foi muito difícil de apitar, não dá para culpar. É uma pena não ter as duas torcidas, porque esse ginásio merecia isso. É pior para arbitragem, porque é da essência, é cultural. A gente como brasileiro precisa aprender a se portar melhor com os árbitros, por exemplo, os atletas, temos que melhorar isso aí - explicou Dedé.
Vasco x Flamengo - NBB (Foto: André Durão)José Neto conversava com seus atletas e era ouvido por todos (Foto: André Durão)
Para José Neto, que acabou tendo de lidar com expulsão de seu melhor atleta na partida, já que Marquinhos foi o cestinha com 27 pontos e ainda deu cinco assistências, foi "muito ruim".

- Talvez para quem está fora dá para entender mais o que falamos, apesar de ter muita coisa de código, de estratégia. Mas é muito ruim, né? Por causa disso acabam acontecendo algumas coisas durante o jogo. Muda um pouco. Eu preferia que estivesse lotado e ninguém escutasse nada - garante o técnico José Neto.
ORIENTAÇÕES OUVIDAS POR TODOS EM QUADRA E NA ARENA 
Assim que a bola subiu em quadra, já deu para ouvir os comandantes e suas comissões gritando para seus atletas. Dedé Barbosa chamava Drudi incessantemente. Depois, falou: "Cuidado no bloqueio". José Neto, por sua vez, seguia mais quieto que o treinador rival, mas aos poucos se soltou. Muitas palmas do banco rubro-negro quando Lelê abriu o placar. Gritos de comemoração quando Murilo errou uma bandeja na sequência. As vozes se confundiam, e só eram interrompidas pelo apito dos árbitros (confira os melhores momentos abaixo).


Nos pedidos de tempo técnico, ouviam-se as vozes dos treinadores ao fundo, as conversas de jornalistas e funcionários das duas equipes que ocuparam algumas das cadeiras vermelhas, e os passos de algumas dessas pessoas subindo escadas. A voz de Dedé Barbosa predominava: "Roda! Roda! Roda", gritava ele para Nezinho e Jackson na armação. O Vasco começou a se soltar, e José Neto passou a falar mais também: "Olha o passe, olha o passe! Ritmo, ritmo, vamos". No ponto de Olivinha, ele festejou.
Vasco x Flamengo - NBB - Neto (Foto: André Durão)Vasco x Flamengo - NBB - Neto (Foto: André Durão)
Do lado oposto do banco de reservas, dirigentes do Flamengo como Marcelo Vido, diretor executivo de basquete, comentavam as jogadas e torciam. "Sem falta, sem falta, só cerca", orientava Vido no ataque cruz-maltino. Eles festejavam cada bola rubro-negra que caía e reclamavam a cada falha. No mesmo setor da arquibancada, funcionários vascaínos, como o vice de esportes de quadra Fernando Lima, estavam mais contidos. Durante o pequeno intervalo entre a primeira e a segunda parciais, um funcionário da Arena da Barra avisou que alguém havia esquecido as lanternas de um automóvel acessas no estacionamento. O anúncio ecoou pelas arquibancadas. Depois, deu para ouvir perfeitamente quando o árbitro de fundo discutiu com Marquinhos e disse ao jogador do Flamengo: "Você fica falando, falando demais, fica chato". O Rubro-Negro terminou a primeira parcial na frente: 22 a 11.
Vasco x Flamengo jogo falado NBB Arena da Barra (Foto: André Durão)O que mais se ouviu no jogo foram discussões entre atletas e juízes (Foto: André Durão)
Na segunda parcial, o Vasco foi chegando perto, e Dedé passou a fazer mais elogios. Palacios entrou em quadra para comemorar um ponto de Nezinho e abraçou seu colega: "Vamos, Nezinho, vamos!". O hermano gritou o nome do companheiro ainda mais quando ele empatou o duelo na sequência em bola de três (29 a 29). Quando o juiz marcou antidesportiva de Nezinho em cima de Marquinhos, Dedé Barbosa se dirigiu ao árbitro e disse, irritado: "Ele faz falta por trás e você não dá antidesportiva". O armador do Vasco foi conversar com a arbitragem e indagou: "O que eu faço então?". Nos pedidos de tempo técnico, vendo que os adversários podiam ouví-los facilmente, os técnicos baixaram o tom de voz. Apesar da reação cruz-maltina, a boa atuação de Mineiro fez o Flamengo seguir em vantagem para o intervalo: 38 a 35.
Vasco x Flamengo - NBB (Foto: André Durão)Discussões entre atletas dos dois times eram facilmente ouvidas (Foto: André Durão)

No intervalo, dos alto-falantes passaram a sair músicas de rap e hip-hop. O locutor começou a anunciar também nomes de patrocinadores. As habituais ações de marketing dos clubes que ocorrem nos jogos em São Januário, na Gávea e no Tijuca Tênis Clube ficaram de fora dessa vez, visto que não havia torcedores presentes. Portanto, as canções seguiram tocando durante o período em que a bola ficou parada. 
A virada do Vasco veio na terceira parcial, impulsionada pelos gritos de Dedé Barbosa e pela boa atuação de Nezinho. O banco cruz-maltino batia palmas e celebrava, principalmente quando o quinteto em quadra abriu sete pontos (58 a 51). José Neto estava mais quieto e pensativo e, na hora do tempo técnico, deu para ouvir o comandante do Vasco, mas nada da voz do treinador do time da Gávea. Só foi possível escutá-lo quando ele discutiu com o árbitro e falou: "Você não pode me punir por falar". 
Vasco x Flamengo - NBB (Foto: André Durão)Sem torcida, jogo foi truncado e muito falado (Foto: André Durão)
O juiz retrucou: "Já falou uma, duas, três vezes. Chega!". Depois, foi a vez de Dedé Barbosa se desentender com a arbitragem por conta de uma falta técnica não marcada: "Não tem cabimento isso". E quem tomou a técnica foi ele. Ao soltar um palavrão. Dedé, porém, retrucou com o árbitro: "Eu estava conversando com a minha defesa". O confronto ficou equilibrado, e o técnico do Vasco colocou Márcio Dornelles: "Márcio, você no 11 (Marquinhos)". Pouco depois, o cronômetro anunciou o fim da parcial: 64 a 59 para o time da Colina.
Vasco x Flamengo NBB Arena da Barra (Foto: André Durão)No fim das contas, melhor para o Vasco (Foto: André Durão)
Na última parcial, o jogo voltou mais equilibrado ainda. Os atletas disputavam ponto a ponto, e o banco rubro-negro estava agitado. Deu para ouvir um celular tocando quando o barulho dos jogadores parou um pouco. As indicações de Dedé Barbosa eram ouvidas por toda a Arena. Após virada vascaína, Marquinhos ficou discutindo com a arbitragem. Dessa vez não deu para ouvir porque o banco do Vasco fazia uma comemoração ensurdecedora. Depois, quando Marquinhos tentou de três e sofreu falta, foi a ver de os rubro-negros comemorarem o direito a lances livres. A cada um dos convertidos, gritos de "Boa, Marquinhos! Isso!". Mas o jogador do Flamengo estava irritado, dizendo que o banco do Vasco estava gritando durante os chutes: 
"Não tem torcida, não pode isso", dizia ele. De tanto reclamar, o camisa 11 acabou excluído e, no caminho para o vestiário, saiu dizendo: "Não tem torcida. A gente não pode ser prejudicado assim". O jogo estava empatado, mas o Vasco tomou a frente de novo, e Olivinha desperdiçou um lance livre, soltando um palavrão de lamento. O Fla virou atacando forte, e o banco vibrou. Dedé Barbosa pediu tempo. Depois de confusão na defesa do Fla, Fiorotto foi esperto, fez a finta e, no contra-ataque, sofreu a falta, indo para a linha de lance livre, mas não sem antes gritar muito festejando. Ele acertou um e botou o outro em jogo para gastar tempo. No ataque rubro-negro, a bola bateu no pé de Murilo, e o jogo foi parado para orientações. Mas não deu para fazer mais nada, e o Vasco venceu por 78 a 77. Após o término, só o hino do Vasco e os gritos de "casaca" ecoavam pela Arena, com os jogadores em uma roda no centro de quadra.

ERRATA:Por um erro de digitação, o GloboEsporte.com involuntariamente distorceu a fala do técnico Dedé Barbosa. O treinador disse que "para arbitragem foi horrível" apitar, e não que "a arbitragem foi horrível", como foi publicado inicialmente pela reportagem. Pedimos desculpas pelo erro. A declaração foi corrigida às 11h37 do dia 29/01/2017.