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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Mongólia Bike Challenge: 900km de aventuras, aprendizados e emoções


Breno Bizinoto Eu Atleta (Foto: Danielle Baker) 

Único representante brasileiro na competição que reúne os melhores atletas de ciclismo do mundo, Breno Bizinoto conta sua experiência na ultramaratona

Breno Bizinoto é o primeiro representante do Brasil
no Mongólia Bike Challenge (Foto: Danielle Baker)
 
A ideia de competir 900km com os melhores atletas de mountain bike do mundo durante sete dias parece elevar o esporte ao extremo. Os desafios e novidades encontrados na quinta edição do Mongólia Bike Challenge beiram o infinito, e se consagram como extremos em se falando de distâncias, temperatura, superação de limites, riquezas naturais, cultura e história.
A apresentação da corrida começou com uma cerimônia na qual os atletas e organizadores se apresentaram, resumindo brevemente o que estava por vir. Havia 79 atletas de 23 países com histórias completamente diferentes e algumas paixões em comum.
A organização falou muito sobre o evento, mas falou pouco sobre os 900km que iríamos enfrentar. “Não criem nenhuma esperança para esta corrida. Tudo pode acontecer, portanto estejam preparados”. O silêncio reinou naquele momento. No fundo, eu já sabia que tudo pode acontecer em uma ultramaratona. Mas, ao longo dos sete dias, eu vi que deveria ter levado aquela recomendação ainda mais a sério.
Um dia antes da primeira etapa, fomos levados ao Complexo da Estátua de Chingiss Khan, o maior imperador da Mongólia. A sua história é repleta de curiosidades, e ele é homenageado em todo o país. O lugar é um dos mais bonitos que eu já vi, o monumento é magnífico e o horizonte é repleto de montanhas. A largada seria no dia seguinte, no mesmo local. Eu não tinha ideia se conseguiria um pódio ou não. Eu estava aceitando até a hipótese de não conseguir completar a corrida, mesmo com experiência em maratonas, ultramaratonas e provas de endurance. Mas, como único representante do Brasil, eu queria muito mostrar ao mundo como está o nível do MTB por aqui.
Procurei mapear meus adversários logo ali. Vi diversos atletas que aparentavam ser da minha categoria, 18 a 32 anos. Tinha um inglês forte, braços definidos e postura impecável. Logo vi que eu seria aniquilado. Havia um trio de chineses que não entendiam uma palavra do que a gente falava. Tinha um espanhol que também aparentou ser muito experiente...  Assim fui medindo as possibilidades de me destacar ou afundar na categoria.
Mongolia Bike Challenge 2014 (Foto: Danielle Baker)Estátua de Chingiss Khan, imperador da Mongolia: local da largada da primeira etapa (Foto: Danielle Baker)
Nesta noite, correu o boato que um italiano saiu para treinar no dia anterior e ficou perdido nas montanhas, passando a noite por lá. Fui tentar identificar quem era. Ele estava desconsolado e cansado. Disse que foi treinar nas montanhas, andou 20km para fora da cidade e, quando retornou, viu que estava perdido. O sol se pôs, e ele foi o primeiro a experimentar o frio que faz lá em cima. Ele ficou sem nenhuma fonte de iluminação e disse que era impossível observar os caminhos.
Assim que a noite caiu por completo, ele viu uma fogueira e, com muita dificuldade, chegou até ela. Foi recebido por três mongóis que tinham muita dificuldade em entender o que ele falava. Eles só tinham água e amendoins. Eles não deixaram o italiano tentar voltar para a cidade, pois era muito perigoso caminhar pela montanha sem luz, havia buracos e animais selvagens, como lobos. Além disso, a temperatura chega a -10°C nesta época do ano. Ele poderia ter morrido!
O italiano passou a noite sem dormir, porque mesmo com a fogueira e os amendoins, foi dominado pelo frio, pela fome e pelo medo. Quando o sol nasceu, ele aprendeu o caminho de volta para a cidade. Sua longa pedalada totalizou mais de 100km.
Mongolia Bike Challenge 2014 (Foto: Danielle Baker)Os 79 competidores de 23 países diferente posam para foto após a apresentação da prova(Foto: Danielle Baker)
Assim que ele entrou no perímetro urbano, foi recebido pelo exército da cidade. O cara estava com fome, frio, sono, medo, e se deparou com um militar apontando uma arma para a sua cabeça, falando uma língua impossível de entender. Ele me disse que chorou muito. Os militares sabiam que ele não era um cidadão local, e suspeitaram que estivesse entrando ilegalmente no país, de bicicleta mesmo.
Quem já competiu uma ultramaratona sabe o quanto é importante se resguardar e descansar antes da prova, comer e dormir bem e ficar longe de qualquer estresse. Tive muita pena de ver que ele já ia começar a corrida assim, com uma chance imensa de se dar mal e abandonar. Além disso, ele não tinha experiência com maratonas e ultramaratonas. Fiquei triste por ele.
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Mongolia Bike Challenge 2014 (corrigido) (Foto: Divulgação)

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