Total de visualizações de página

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Dia da Consciência Negra: o Futebol em dívida com o Vasco da Gama.

RESPOSTA HISTÓRICA!

Há 90 anos, um clube – o Clube de Regatas Vasco da Gama - mudou os rumos do futebol brasileiro, ao dizer “não” a Arnaldo Guinle, o então poderoso presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), e chefe de uma família, ainda hoje, uma das mais tradicionais do Rio de Janeiro.
O Vasco da Gama, campeão carioca de 1.923 comunicava que não pretendia fazer parte da nova entidade para não se submeter a exigência da Liga recém fundada pelos cinco clubes mais influentes  à época – América, Bangu, Botafogo, Flamengo e Fluminense – de que excluísse dos seus quadros 12 atletas, a maior parte deles negros, pobres e nordestinos considerados pela AMEA de “profissão duvidosa”. A decisão foi comunicada no dia 07 de abril de 1.924 e é assinada pelo então presidente José Augusto Prestes.
Campeão
Com a decisão, que ficou conhecida como “Resposta Histórica”, o Vasco manteve-se na Liga Metropolitana de Desportos Terrestres, por onde disputou e venceu o campeonato carioca do ano anterior, enfrentando os cinco grandes e disputou o campeonato de 1924, esvaziado contra equipes de menor expressão. Foi campeão com 16 vitórias em 16 jogos.
No ano seguinte voltaria a fazer parte da Associação presidida por Guinle, sem qualquer condição, com um elenco de atletas, negros, nordestinos e pobres.
A decisão da direção vascaína fez história. A “Resposta Histórica” publicada pela imprensa da época está na sala de Troféus do Vasco da Gama. Ganhou imediatamente repercussão na imprensa carioca sendo publicada em vários jornais, como o jornal “O Paiz”, um dos mais importantes da época, na página 8 da edição de 16/04/1924.
“Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu, por unanimidade, a directoria do C. R. Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos consoclos, investigação levada a um tribunal onde não tiveram nem representação, nem defesa. (...) São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo da sua carreira, e o acto publico que os póde macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias”, encerra o então presidente vascaíno José Augusto Prestes.

Leia, na íntegra, a "Resposta Histórica".
"Rio de Janeiro, 7 de abril de
                        1924 — Officio n. 261 — Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle, muito digno presidente da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos—
As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de hontem pelos altos poderes da Associação a que V. Ex. tão dignamente preside, collocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não póde ser justificada, nem pelas deficiencias do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande numero dos nossos associados.
Os privilégios concedidos aos cinco clubs fundadores da A. M. E. A., e a fórma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a levar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu, por unanimidade, a directoria do C. R. Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos consoclos, investigação levada a um tribunal onde não tiveram nem representação, nem defesa.
Estamos certos que V. Ex. será o primeiro a reconhecer que seria um acto pouco digno da nossa parte sacrificar, ao desejo de fazer parte da A. M. E. A., alguns dos que luctaram para que tivessemos, entre outras victorias, a do campeonato de foot-ball da cidade do Rio de Ja  neiro de 1923.
São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo da sua carreira, e o acto publico que os póde macular, nunca será prati cado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Ex. que desistimos de fazer parte da A. M. E. A.
Queira V. Ex. aceitar os protestos da maior consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, do V. Ex., att. vnr. e obro. —
José Augusto Prestes, presidente."

Nenhum comentário:

Postar um comentário