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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

ALBERTÃO ANIVERSARIA E CONTINUA INTERDITADO

Interditada, praça esportiva fica perdida ao longo das décadas. Arquiteta e engenheiro dão ideias para local retornar aos tempos áureos dos anos 70

Header Especial Albertão - VALENDO (Foto: Arte: Adelmo Paixão)
- Havelange, como faz para o Piauí fazer parte do Campeonato Nacional?
- Ora Alberto, primeiro é preciso ter um estádio.
As frases acima reproduzem (de forma livre) o diálogo ocorrido na década de 70 entre o então governador do Piauí Alberto Silva e o João Havelange, presidente da antiga CBD (hoje Confederação Brasileira de futebol). Nascia assim a ideia de construção do Estádio Albertão, em Teresina (PI), palco de alegrias para o futebol piauiense .
Mas na história, ficou uma ressalva que não estava nos planos iniciais. Quarenta anos depois de sua inauguração, no dia 26 de agosto de 1973, nenhum dos mais pessimistas torcedores que vibravam naquela época poderia imaginar que o “Gigante da Redenção” caísse no esquecimento. O estádio – que já abrigou jogos da Seleção Brasileira – está vazio. Os gritos de gol nas arquibancadas, por enquanto estão silenciados. E se depender da inércia das autoridades que administram o estádio, novas festas deverão ser adiadas. Uma situação que envergonha o torcedor.
Como então modernizar o velho Albertão? Esse é o último tema da série de reportagens do GLOBOESPORTE.COM, em comemoração ao aniversário do estádio.
Um passeio pelo projeto: beleza de encantar os olhos
De acordo com o engenheiro Cid Dias, que participou da equipe de fiscalização das obras, o projeto do estádio teresinense foi considerado um dos mais bem elaborados de todo o Brasil, não apenas pela beleza arquitetônica, como pela tecnologia empregada na parte construtiva. A empresa responsável, segundo o profissional, adotou os traços do Mineirão, em Minas Gerais, e do Serra Dourada, em Goiânia, para a formação do Albertão.
- Considero que a beleza do Albertão está na extensão do projeto. Você vê movimento da estrutura com descidas e subidas o que deixa o estádio agradável. É uma obra sólida, bem construída. Sem dúvidas, uma das maiores do Brasil – analisa o engenheiro.
Cid Dias, engenheiro - Albertão (Foto: Josiel Martins )Projeto arquitetônico do Albertão foi avançado para época, aponta engenheiro (Foto: Josiel Martins )
A grandeza da construção do estádio impressionava na época, como narra Cid Dias. Para as fundações, foram utilizados 646 tubulões armados, escavados a céu aberto com profundidade de sete metros. Não havia nenhuma firma de concreto no Piauí, obrigando a instalação do canteiro de um complexo laboratório, uma novidade na década de 70.  
- Considero o Albertão como uma matriz da engenharia do Piauí. Tínhamos pressa para liberar o concreto. As torres de iluminação foram feitas em menos de 10 dias. Algo inacreditável para a tecnologia empregada. Havia também uma preocupação com a iluminação, por isso as torres ficaram localizadas nas pontas, do lado externo – relata Cid Dias.   
- Nem em Copa do Mundo no Brasil se faz isso (risos) – brinca o engenheiro.    O Albertão foi construído em duas etapas. A primeira foi concluída em 120 dias, segundo a pesquisadora e arquiteta Kaki Afonso. Cerca de 900 trabalhadores foram empregados. A segunda, realizada no governo de Dirceu Mendes Arcoverde (1974-1978), foi para a conclusão dos pórticos externos e a laje de cobertura, na época a maior laje em balanço de concreto protendido no Brasil. Recorde, que vira brincadeira nas palavras de Cid Dias.
Traços da arquitetura e novas ideias
Uma rápida olhada, mais outra e a confirmação: o conjunto de obras do Albertão expressa a plástica dos materiais. Essa é a interpretação da arquiteta Kaki Afonso. Segundo ela, o estádio adotou a arquitetura brutalista, caracterizado pela estrutura robusta, espécie de monumento ligado à Ditadura Militar.
- O edifício, de planta elíptica, possui uma marcação estrutural composta de 96 pórticos de concreto aparente que de forma decrescente dão forma e movimento à volumetria imponente, mas leve, conseguida através do uso de uma grande marquise em balanço que cobre parte do estádio, que possui quatro níveis interligados apenas por escadas explica Kaki Afonso.
Estrutura que poderia, segundo Kaki Afonso, ser urbanizada para atender a realidade. E ela vai além. É preciso aproximar o estádio dos torcedores, mesmo sem a frequência de jogos no calendário. Atualmente, a pesquisadora realiza estudos prévios para viabilizar projetos de mudança no Albertão. 
Estádio Albertão, em Teresina (PI) (Foto: Reprodução/Arquivo Cid Dias)Foto do Albertão na década de 70. Estádio não acompanhou evolução (Foto: Reprodução/Arquivo Cid Dias)
- Para modernizá-lo seria necessário atualizar seu programa de necessidades para novos usos contemporâneos, adaptando-o às normas de acessibilidade, incêndio e procurando urbanizar a área do entorno, com um projeto paisagístico composto por praças, parque, ciclovias, quadras, que o integrasse ao bairro e os habitantes pudessem usufruir mais e melhor da obra – destaca Kaki Afonso.
Interditado pelo Ministério Público Estadual desde o mês de abril, o Albertão está fora dos padrões de acessibilidade. O Corpo de Bombeiros questiona as saídas de emergência.  Para o engenheiro Cid Dias, a culpa do esquecimento está no poder público. De acordo com ele, a praça esportiva não se modernizou devido à falta de investimentos. 
- O Estádio não tem recursos. Os governos vão passando e não colocam dinheiro dentro. Temos tanta área que pode ser aproveitada no estádio, por exemplo, restaurantes e até escolas. Poderia alugar algumas salas para departamentos públicos de forma que rendesse – critica Cid Dias, que esboça uma solução para o local:
Para modernizá-lo seria necessário atualizar seu programa de necessidades para novos usos contemporâneos"
Kaki Afonso, sobre projetos de modernização no Estádio Albertão
- Qualquer grande evento poderia ser feito no Albertão, por exemplo, shows. Tudo no estádio é gigantesco. Um prédio desses poderia ser aproveitado como ponto turístico de atração. Se tivessem força de vontade, o Albertão poderia estar melhor. Não se pode pensar apenas em época de Copa do Brasil. Em último caso, poderia até deixá-lo para iniciativa privada – acredita.  
Cadeiras vazias
Quatro décadas, mas sem motivo para comemorar. A assessoria de comunicação da Fundação de Esportes do Piauí (Fundespi), administradora do estádio, informou que o projeto de acessibilidade do Albertão, principal entrave para interdição da praça esportiva, foi entregue ao Ministério Público Estadual. Após aprovação, as adequações serão encaminhadas para liberação dos recursos. A intenção, de acordo com o órgão, é colocar o local dentro das exigências do Estatuto do Torcedor. O prazo, contudo, não foi informado. Enquanto isso, fica o silêncio das arquibancadas.  
- A sociedade vai mudando, o Albertão também. As exigências de segurança são maiores, exigentes. O Albertão tem 99% das obras concluídas e restam pequenas coisinhas, como acessibilidade e exigências de segurança. Tem que haver manutenção permanente, pois as estruturas vão se acabando com o tempo. Não podemos fechar nossos olhos – analisa Cid Dias.
Estádio Albertão (Foto: Emanuele Madeira/GLOBOESPORTE.COM)Vazio. Após época de ouro, Albertão fica em silêncio (Foto: Emanuele Madeira/GLOBOESPORTE.COM)

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