Treinador do atacante em início promissor no futebol conta bastidores de convivência em 2009 pelo Alvinegro, dispara contra dirigentes e diz: "Vida dele está acabando"

Mas o que fez a vida de um jogador promissor deixar o futebol e ganhar as páginas policiais e cair no ostracismo? Técnico de Jóbson no melhor momento da carreira do atacante, em 2009, Estevam Soares, relembrou bastidores daquele ano, lamentou mais um episódio negativo na vida do jogador e levantou uma questão muito discutida, mas pouco mexida no meio futebolístico: a formação.
O técnico, que recentemente assumiu o Tupi-MG para a disputa a Série B do Campeonato Brasileiro, disse que ficou sabendo da detenção de Jóbson na tarde desta quinta e ficou muito chateado com mais um problema envolvendo o jogador.
– Eu fiquei muito surpreso, soube pouco antes de vir para o treino. Me chocou muito, porque é um menino, é um "pretinho", como eu sempre chamei, com o qual eu tenho carinho muito grande. Vejo isso com muita tristeza – lamentou.

Para o treinador, o caso de Jóbson serve de alerta para uma situação preocupante nos clubes: a formação. Isso porque, segundo ele, meninos deixam suas famílias cada vez mais cedo para tentarem a sorte no futebol. Estevam, que também foi jogador e conquistou títulos brasileiros por São Paulo, em 1977, e Sport, em 1987, destacou que antigamente, os atletas já eram retirados das famílias de forma precoce. O que só piorou com o passar dos anos. Mas de quem é a culpa? Para ele, os dirigentes são os maiores responsáveis.
– Acho que ele é uma vítima social, deste problema ligado ao jogador de futebol. Nós no Brasil já temos um problema social enorme. Imagina o jogador de futebol, que geralmente é uma classe mais simples, humilde. É o caso de nós do futebol até repensarmos e analisarmos como estamos criando os nossos jovens atletas. Ele é um retrato dos nossos atletas, desta falta de apoio para os mais pobres e os menos favorecidos. No futebol, não temos dirigentes capacitados, que ajam como dirigentes, que sejam educadores de jovens. Temos um monte de baba-ovos. E quanto mais tempo passa, pegamos os garotos dos pais mais cedo. Antes, pegavam alunos de 15 e 16 anos. Hoje, pegamos com 11, 12, e a criação segue a mesma, o paternalismo o mesmo. Se lá no início tivesse um dirigente ou um clube que o tivesse abraçado, ensinado, preparado para a vida profissional, talvez ele (Jóbson) não estaria nesta situação – opinou.
a aposta

(Foto: Agência Globo)
– A minha situação com ele no Botafogo foi muito sui generis. Eu tinha visto ele jogar pelo Brasiliense tempos antes de eu ir para o Botafogo. E me chamou atenção, aquele "pretinho", correndo pra lá, pra cá, pra lá, pra cá. Iam se encerrar as inscrições e precisávamos de um goleiro e de um atacante de beirada. O goleiro foi o Jéfferson, mas não tínhamos o atacante. Me veio o nome do Jóbson na cabeça. Ele já estava na Coreia, afastado por problemas por lá, mas ele veio. Quando ele chegou e fui buscar mais informações, foi uma coisa muito terrível. As informações eram as piores possíveis. Mas nós, o Maurício Assumpção (presidente do Botafogo) e o Anderson Barros (gerente de futebol) compramos a ideia. E ele foi um dos responsáveis por livrar o Botafogo do rebaixamento. Ele explodiu, deu um retorno que poucas vezes eu vi um jogador me dar, com velocidade, aquele drible, arremate, precisão. Até o dia do doping, nós o cercamos de toda a proteção que podíamos. Mas a própria vida o dragou e acho que praticamente está chegando ao final – detalhou.
Até o dia do doping, nós o cercamos de toda a proteção que podíamos. Mas
a própria vida o dragou e acho que praticamente está chegando ao final
Estevam Soares
– Tivemos muito cuidado com ele nos dois primeiros meses. Tinha um funcionário do Botafogo que ficava por conta dele, de levá-lo para o hotel, para buscá-lo. Trouxemos a mãe e a irmã dele do Pará, até ele se encaixar. No final, a gente foi surpreendido, na segunda, terça-feira depois do jogo final contra o Palmeiras, com a divulgação do doping (o segundo positivo do jogador, que foi flagrado pela primeira vez após uma vitória sobre o Coritiba, por uso de cocaína, no mês anterior). Coincidentemente, no intervalo contra o Palmeiras, ele estava com um comportamento muito estranho. Se a gente empatasse ou perdesse, cairia, então o clima no vestiário era muito tenso. E ele (Jóbson) estava completamente excitado, completamente mexido. Talvez fosse até o efeito da substância – comentou.
Depois da queda, Jóbson foi suspenso pelo STJD, mas voltou a ter oportunidades no Botafogo e no Atlético-MG, onde teve o contrato rescindido por indisciplina. Em 2012, Estevam voltou a trabalhar com Jóbson, no Barueri e disse que buscou o atleta para tentar recuperá-lo, mas não teve êxito. Durante a entrevista, Estevam Soares confessou ter se perguntado o que estava acontecendo na vida de seu ex-atacante, desde que tomou conhecimento dos problemas que já existiam na vida do jogador em 2009.
– A gente fez tudo que dava – encerrou.

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